terça-feira, 10 de junho de 2014

Grilhões



Há uma vida a ser vivida
Mas você se esqueceu disso.
Preso ao passado, não consegue ver mais nada.
Acordar não é só uma opção, é preciso.

A mágoa e o rancor te consomem.
Não consegue perceber que o prazer da vida foi embora?
Olhe para o espelho agora
E diga o que vê, uma pedra ou um homem?

Note ao seu redor, as pessoas que te amam são felizes!
Elas têm o espírito leve e disposto.
E você? Não vê que seu mundo solitário é o oposto,
Como toco seco de uma árvore sem raízes?

Por que então essas reminiscências?
O que se ganha por não saber perdoar?
Acaso podem responder todas as ciências
O que o coração escolheu sepultar?

Não depende de ninguém a sua mudança,
Pois só acerta o passo quem arrisca a dança
Depois de mil e um tropeços
E de incontáveis recomeços.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 09 de junho de 2014

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Eterno Instante




O relógio parou de repente.
Sem explicações, sem palavras, calou-se.
Senti naquele momento que eu era um indigente
Órfão da vida, vulnerável, perdido em si.

Meu olhar distante e reflexivo
Continha a dor vulcânica do medo
Que a solidão impõe de modo expressivo
A consumir a alma ainda tão cedo.

Não havia respostas, nenhum mísero consolo,
Apenas aquele quarto escuro, inerte,
A esconder a face oculta de um tolo,
A fazê-lo em vida experimentar um pouco da morte.

Uma última imagem a entorpecer a razão distraída.
Estática lembrança, quase que instantânea,
De que para certos traumas não há saída:
O último índio da última aldeia.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 04 de junho de 2014

Mundo Ideal

E veio um insight repentino
Uma ideia boba, coisa de menino,
A remeter minha alma a um mundo visionário
Cheio de coisas boas em um belo cenário.

Partiu de dentro uma vontade legal
De ter amigos sinceros num bom papo de quintal
E de querer ajudar quem quer que fosse
Porque do amor fraterno tomei posse.

Um sentimento puro, por isso, invadiu meio peito
Transferindo-me daqui para um mundo perfeito.
Tudo parecia tão verdadeiro... Tão real...
Que não desejei acordar desse sonho ideal.

Mas eis que me deparei com a presente humana insanidade,
Gente ruim a desejar o mal por toda a parte.
Então pensei comigo mesmo em tom provocante:
Que mundo você constrói, pequeno infante?

Quem te molda hoje em dia?
O mal que prevalece ou bem que em ti ardia?
E, convicto do valor de um sentimento virtuoso,
Resolvi fazer de mim o melhor que posso.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 27 de maio de 2014