quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Cartas Mortas


Aquele momento especial
Em que uma simples folha de papel
Se transformava num tesouro
E cobria distâncias guardando seu mistério,

Aquele momento não existe mais.
Perdeu-se o romantismo de tempos atrás
Das letras cursivas pacientemente desenhadas
Em superfícies por vezes perfumadas.

Perdeu-se a intensidade da palavra saudade,
A esperança na expectativa da resposta ansiada.
Tudo hoje é instantâneo, lépido,
Efêmero como chama que arde.
Não há lembrança, suspiro, compromisso, nada.

Aquelas palavras estão sepultadas,
Esquecidas em gavetas pelo tempo envelhecidas
Com as almas que por elas por longo tempo ficaram unidas.
E suas histórias, como lápides, em laudas, eternizadas.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 15/01/2014





Hesitação




Mais uma vez eu te procuro
E tento falar o que penso e sinto,
Então divago, me perco no escuro,
E, como não encontro as palavras certas, quase minto.

Mais uma vez abro minha boca
Para dela não emitir som algum.
Numa ânsia trêmula e louca,
Caio no velho laço do lugar comum.

Mais uma vez miro seus olhos,
Na certeza de que lê meus pensamentos.
No entanto, não vejo neles brilhos
E cerro os meus em tristes lamentos.

E mais uma vez sussurro uma canção conhecida
No afã de torná-la porta-voz, mensageira.
Mas... de novo não é de forma alguma compreendida
Mesmo que isso, meu Deus, eu tanto queira!

Mais uma vez reconheço minha insignificância,
Minha fragilidade e total falta de talento
Para expressar um sincero e verdadeiro sentimento,
Hesitante, porém, como reticência.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 08 de janeiro de 2014.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Marcas

A semente que nasce nada sabe
Daquilo que verá, ouvirá e sentirá
Até que se torne um baú de histórias vividas.
Rompendo o solo em busca do sol, ela sobe,
E as intempéries, com razão incerta, enfrentará
Como tantas outras a ela assemelhadas.

Um ciclo comum e corriqueiro
Efêmero, breve, curto, passageiro.
Ainda assim, singular e especial
Pois ela é filha e mãe sem haver outra igual.

Cresce viçosa com folhas verdejantes
Flori nas primaveras com exuberância,
Mas nos outonos se expõe e denúncia
Que é feita de raízes enterradas e aparentes.

No seu tronco ficam as marcas de tudo o que passou
Todas essas lacerações enchem-na de lembranças
Doces e amargas do que foi e ficou
Como lições em forma de sábias sentenças.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 2014

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Insanidade



Tudo acontece de bom e de ruim
Num ciclo interminável de não e de sim,
Como uma necessidade inerente
De equilíbrio pendular entre corpo e mente.

Um estado de espírito inconstante
Que chora quando deveria rir
E se alegra apesar da dor presente,
Sem qualquer noção do porvir.

Louco? Talvez, quem sabe?
A insanidade é aquela que absorve
Os impactos dos flagelos que nos cabe
E que atingem a nossa inane verve.

Um instintivo recurso de sobrevivência:
Ignorar o fato e a consequência,
Letargicamente alheio aos efeitos da chama que arde
Em busca da enganosa sensação de felicidade.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2013