sábado, 20 de outubro de 2012

Pensamento que Voa


Daqui de cima tudo parece sem sentido,
Sobrevoando o planeta num voo qualquer.
Não vejo pessoas, o mundo é tão árido
De esperanças, angústias e fé.

Meu pensamento vaga com o olhar fixo
Na janela que serve de portal
Entre o abrigo no céu e o precipício
A me lembrar que sou mero mortal.

Na dependência das duas máquinas
Que me conduzem a um destino,
Reconheço que as mil esquinas
São um mosaico desse meu desatino.

E o voo numérico exprime um quê de lógica
À pressa pela qual sou levado.
Tudo se movimenta na velocidade cínica
De recuperar algum estranho tempo perdido.

Orgânica poeira na expansão cósmica,
Penso no que somos afinal.
Tantas vidas, tanta história que vai e fica,
E essa maldita dúvida abissal.

Carlos Bianchi de Oliveira
18 de outubro de 2012

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Angústia de Cada Dia


Amanhece, e uma porta de possibilidades se abre diante de mim.
Desperto a mente como um vulcão ativo
Para realizar mil coisas sem fim,
Coisas que me fazem sentir mais vivo.

Penso então em tudo isso que associa
Responsabilidade, compromisso e desejo.
Vem daí um sentimento que me angustia
Como o pássaro que faz a escolha no realejo.

Nesse embate entre o prazer e o dever cumprido,
A escolha não alivia o sentimento
De que algo ficou perdido
Ou não recebeu o necessário alimento.

A noite vem e com ela a certeza
De que o tempo conspirou contra mim.
Minha alma oscila entre a carência e a riqueza,
Carregando consigo um sentimento ruim.

Exausto, busco o descanso que me é imposto
Pelo corpo que inconscientemente sabe
Da necessidade que se sobrepõe à do espírito,
Do sono que vem para que a lucidez não se acabe.

E luto, e resisto bravamente no afã
De realizar o último ato que o corpo adia.
Sinto meus olhos então se fecharem no divã
E uma voz me dizendo baixinho: "amanhã será um novo dia".


Carlos Bianchi de Oliveira
26 de setembro de 2012