quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Humano



Sou um corpo que vaga no imenso vazio
E que cai no copo deste oceano,
Uma luz que brilha no escuro arredio
E se apaga na fluidez líquida do engano.

Por isso, não chore em mim suas mágoas,
Não faça de mim o seu caminho.
Não sou Deus para secar suas águas,
Sou um moribundo que vaga sozinho.

Não acredite em minhas palavras.
Não se alimente de minhas promessas.
Sou o nada que afunda sobre o nada,
Sou uma estrada surda e abandonada.

Por isso, não acredite em minhas chagas,
Não curarei o mal que te atormenta.
Não sou o santo que te livrará das pragas:
Sou matéria, o pó que se levanta quando venta.

Meus sonhos jazem neste corpo frio,                          
Meu futuro, como o seu, também é sombrio.

Carlos Bianchi de Oliveira
21 de fevereiro de 2006

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Beleza da Alma

 

Onde está a verdadeira beleza humana?
Não no corpo que seduz,
Não no rosto de porcelana,
Não no músculo que o exercício produz.

Também não está na eloquência,
Tampouco na força física.
Nem mesmo na resistência
Ou na admirável lógica.

A verdadeira beleza está no sorriso
Doce que na face irradia.
Não um cobiçoso,
Sarcástico ou cheio de ironia.

Mas aquele despretencioso,
Que eu lembro ter visto um dia
No semblante de um homem idoso
E da criança que tudo fantasia.

Esse sorriso não é gratuito.
Ele vem do fundo da alma
De quem da vida não pede muito
Mas que intensamente ama.

Por isso, o mal sofrido esquece,
E o erro simplesmente perdoa.
Mesmo quando um dia se aborrece,
A paz íntima no rosto ecoa.

Esse sorriso leve contagia.
Rompe barreiras de tal forma
Que a guerra jamais conseguiria:
Suave, branda e calma.

Tenho saudades dessa beleza
Que o ódio, a excessiva justiça,
A inveja, e o anseio por vingança
Furtam de nós de forma impiedosa.

E roubam-nos o brilho da vida,
Consomem nossas mais puras energias
Trazendo em troca uma imagem cansada,
De ternuras fugidias.

Carlos Bianchi de Oliveira
8 de agosto de 2012

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Paz Interior





Sinto-me sereno como um dia de outono,
Quando a brisa impetuosa põe as folhas
A cobrir a terra e forma singelas trilhas
Crepitantes sob um sol ameno.

Um espontâneo sorriso doce e leve
Vem me dizer que tudo vai bem,
Pois todo mal sofrido é breve
Quando se vê um pouco além.

Não há rancor encerrado no peito,
Nem insônia no repousante leito.
O amanhecer de um novo dia
Proclama que a luz da vida ainda irradia.

Entro, assim, em comunhão com a natureza.
Inspiro intensamente seu límpido ar
Que purifica meus pulmões num renovar
De gratidão por sua profunda singeleza.

E essa paz que me invade
Preserva o que de bom foi cultivado
Na longa e incansável busca pela verdade
De que do Pai Supremo sou filho amado.

Carlos Bianchi de Oliveira
31 de julho de 2012