quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Meus Filhos

Como são preciosos para mim!
Tê-los ao meu lado me conforta
E provoca um sensação assim
Como se abre para a vida uma porta.

Suas alegrias, seus dramas e preocupações
Não estão dissociados da minha existência,
Pois sinto de alguma forma as mesmas reações
Por apropriação, por força da paterna influência.

Meus filhos, meus amados,
Que tanto bem me proporcionam!
Com sentimentos revelados,
Suas existências me emocionam.

Queira Deus eterno que a vida nunca nos separe,
E que eu tenha a lucidez necessária,
Para o afeto que nos une repare
O efeito cruel que a senilidade a mim traria.


Carlos Bianchi de Oliveira
7 de dezembro de 2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Memória

Lentamente, tudo
Um dia vira lembrança,
Até ser esquecido.


Carlos Bianchi de Oliveira
4 de dezembro de 2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Eu... condenado


Tenho fugido de mim,
Dos meus medos, do que fui, do que sou, do que posso vir a ser
Nesse mar de incertezas sem fim
Em que uma parte sobre a outra pode prevalecer.

Definir-me é uma tarefa inglória
Pois sou múltiplas composições
De crenças, valores, memória
Entre novas e velhas lições.

Sou um produto inacabado
Em transformação constante,
Um universo não explorado
Um eterno viajante
                             [do meu espaço interior]

Não sou o que desejava ter sido
Mas reprimi o mal que me condena,
E nesse labirinto enoitecido,
Vou cumprindo a minha pena.

Carlos Bianchi de Oliveira
03 de dezembro de 2012

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Terno Afeto

Descansar suavemente minha mão na tua.
Deixa esse instante sereno que a voz cala
Mostrar o terno afeto que o tempo perpetua.

Deixa-me perceber cada detalhe do teu sorriso,
Sentir somente a tua doce e amável presença.
Hoje, isto é tudo o que eu mais preciso:
Estar ao teu lado como uma frágil e carente criança.

Deixa-me eternizar na memória
O movimento lento dos teus olhos,
Ao se abrirem em busca de uma história
Que mantenha neles múltiplos brilhos.

Deixa-me sentir a leveza do teu rosto
No encanto que esta paz transmite.
Diante de tudo o que vivemos e do que está posto,
Deixa mais uma vez que o meu amor te conquiste.

Então, deixa, por favor, que esta contemplação sublime
E silenciosa da essência intensa e verdadeira da tua alma
A minha condição mendicante de afeto anime,
E resgate em mim um pouco do que a poesia reclama.

Carlos Bianchi de Oliveira
09 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Marcas do Tempo


Trago em meu rosto a história
De toda uma vida que se passou,
Mas que permaneceu retida na memória.

São marcas, impressões do que fui,
Inacabadas pelo que ainda sou
Nesse ato contínuo que ainda flui.

Veja este meu sorriso cansado,
Sobrevivente da dor de outrora,
Carregando consigo o peso do enfado.

Ele permanece assim reprimido
Pela lágrima que não chora
Para que o eco do passado não seja então ouvido.

E esta minha expressão serena
É na verdade a consciência das razões relativas,
Pois nenhuma existência em si é plena.

Chamam a experiência de sabedoria,
Mas os conselhos são tolas tentativas
De conter a falsa liberdade que se cria.

Por fim, cada um produz em si as suas linhas.
Eu tenho então este mosaico de mim:
Imagens das imagens que nunca estão sozinhas.


Carlos Bianchi de Oliveira
7 de novembro de 2012

sábado, 20 de outubro de 2012

Pensamento que Voa


Daqui de cima tudo parece sem sentido,
Sobrevoando o planeta num voo qualquer.
Não vejo pessoas, o mundo é tão árido
De esperanças, angústias e fé.

Meu pensamento vaga com o olhar fixo
Na janela que serve de portal
Entre o abrigo no céu e o precipício
A me lembrar que sou mero mortal.

Na dependência das duas máquinas
Que me conduzem a um destino,
Reconheço que as mil esquinas
São um mosaico desse meu desatino.

E o voo numérico exprime um quê de lógica
À pressa pela qual sou levado.
Tudo se movimenta na velocidade cínica
De recuperar algum estranho tempo perdido.

Orgânica poeira na expansão cósmica,
Penso no que somos afinal.
Tantas vidas, tanta história que vai e fica,
E essa maldita dúvida abissal.

Carlos Bianchi de Oliveira
18 de outubro de 2012

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Angústia de Cada Dia


Amanhece, e uma porta de possibilidades se abre diante de mim.
Desperto a mente como um vulcão ativo
Para realizar mil coisas sem fim,
Coisas que me fazem sentir mais vivo.

Penso então em tudo isso que associa
Responsabilidade, compromisso e desejo.
Vem daí um sentimento que me angustia
Como o pássaro que faz a escolha no realejo.

Nesse embate entre o prazer e o dever cumprido,
A escolha não alivia o sentimento
De que algo ficou perdido
Ou não recebeu o necessário alimento.

A noite vem e com ela a certeza
De que o tempo conspirou contra mim.
Minha alma oscila entre a carência e a riqueza,
Carregando consigo um sentimento ruim.

Exausto, busco o descanso que me é imposto
Pelo corpo que inconscientemente sabe
Da necessidade que se sobrepõe à do espírito,
Do sono que vem para que a lucidez não se acabe.

E luto, e resisto bravamente no afã
De realizar o último ato que o corpo adia.
Sinto meus olhos então se fecharem no divã
E uma voz me dizendo baixinho: "amanhã será um novo dia".


Carlos Bianchi de Oliveira
26 de setembro de 2012

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Direito


Segue ao direito de cada um
O preceito de se valer da justiça,
Um natural senso comum
Que tem consequência imprecisa.

Afinal, não há nela certa ânsia por vingança?
Aparentadas estão para arrefecer a alma
Que chama o ódio contido de esperança
Até vir uma estranha paz que acalma.

Entorpecido pelo orgulho e pela dor,
O homem somente enxerga a sua cegueira
E defende sua tese insana com ardor

Como única justa e verdadeira,
Capaz de aplacar a causa da sua morbidez,
Trazendo-o para a vida outra vez.

Carlos Bianchi de Oliveira
18 de setembro de 2012

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Humano



Sou um corpo que vaga no imenso vazio
E que cai no copo deste oceano,
Uma luz que brilha no escuro arredio
E se apaga na fluidez líquida do engano.

Por isso, não chore em mim suas mágoas,
Não faça de mim o seu caminho.
Não sou Deus para secar suas águas,
Sou um moribundo que vaga sozinho.

Não acredite em minhas palavras.
Não se alimente de minhas promessas.
Sou o nada que afunda sobre o nada,
Sou uma estrada surda e abandonada.

Por isso, não acredite em minhas chagas,
Não curarei o mal que te atormenta.
Não sou o santo que te livrará das pragas:
Sou matéria, o pó que se levanta quando venta.

Meus sonhos jazem neste corpo frio,                          
Meu futuro, como o seu, também é sombrio.

Carlos Bianchi de Oliveira
21 de fevereiro de 2006

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Beleza da Alma

 

Onde está a verdadeira beleza humana?
Não no corpo que seduz,
Não no rosto de porcelana,
Não no músculo que o exercício produz.

Também não está na eloquência,
Tampouco na força física.
Nem mesmo na resistência
Ou na admirável lógica.

A verdadeira beleza está no sorriso
Doce que na face irradia.
Não um cobiçoso,
Sarcástico ou cheio de ironia.

Mas aquele despretencioso,
Que eu lembro ter visto um dia
No semblante de um homem idoso
E da criança que tudo fantasia.

Esse sorriso não é gratuito.
Ele vem do fundo da alma
De quem da vida não pede muito
Mas que intensamente ama.

Por isso, o mal sofrido esquece,
E o erro simplesmente perdoa.
Mesmo quando um dia se aborrece,
A paz íntima no rosto ecoa.

Esse sorriso leve contagia.
Rompe barreiras de tal forma
Que a guerra jamais conseguiria:
Suave, branda e calma.

Tenho saudades dessa beleza
Que o ódio, a excessiva justiça,
A inveja, e o anseio por vingança
Furtam de nós de forma impiedosa.

E roubam-nos o brilho da vida,
Consomem nossas mais puras energias
Trazendo em troca uma imagem cansada,
De ternuras fugidias.

Carlos Bianchi de Oliveira
8 de agosto de 2012

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Paz Interior





Sinto-me sereno como um dia de outono,
Quando a brisa impetuosa põe as folhas
A cobrir a terra e forma singelas trilhas
Crepitantes sob um sol ameno.

Um espontâneo sorriso doce e leve
Vem me dizer que tudo vai bem,
Pois todo mal sofrido é breve
Quando se vê um pouco além.

Não há rancor encerrado no peito,
Nem insônia no repousante leito.
O amanhecer de um novo dia
Proclama que a luz da vida ainda irradia.

Entro, assim, em comunhão com a natureza.
Inspiro intensamente seu límpido ar
Que purifica meus pulmões num renovar
De gratidão por sua profunda singeleza.

E essa paz que me invade
Preserva o que de bom foi cultivado
Na longa e incansável busca pela verdade
De que do Pai Supremo sou filho amado.

Carlos Bianchi de Oliveira
31 de julho de 2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Caminhante



Que grande ironia é o nosso caminhar
Pela estrada do tempo fugaz
Em que é impossível parar
Porque o chão que nos sustenta
Continuamente se movimenta
E deixa tudo para trás.

No entanto, o passado
Não se perde no caminho
Pois por nós é resgatado
Pelas lembranças que o coração alimenta,
Porque delas se sustenta,
E nelas faz o seu ninho.

Mas a caminhada permanece
Enquanto há pulsar de vida.
Contudo, de tudo que acontece
Muito pouco se retém e acumula
Do aroma que o viver exala
Quando a noite é interrompida.

Seguimos nosso destino
Até que a caminhada se acabe.
Velho, moço ou menino,
Não importa, pois sempre será breve
O peso que um dia fica leve
Quando a terra mãe enfim nos recebe.


Carlos Bianchi de Oliveira
12 de julho de 2012

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Amizade



Qual é o valor de uma grande amizade?
Responda aquele que já sentiu saudade.
Aquele que recebeu um ouvido atento
E, para a própria dor, um terno alento.

Responda aquele que tem a casa vazia
E não compartilha nenhuma alegria
Porque não há a quem relatar
O seu solitário e insípido caminhar.

Responda também aquele que não se deu.
Que com avareza seu sentimento escondeu
Porque não confia na honestidade,
Rejeitando a mínima proximidade.

Responda aquele que ficou ofendido
Pela verdade dita de um jeito indevido
Por alguém que, embora sincero,
Acrescentou: "O teu mal, amigo, eu não quero."

Responda quem um dia
Acreditou que tudo perdia
E do chão da dignidade foi levantado,
Sem jamais por isso ter sido cobrado.

Responda aquele que pôs fim à planta
Ao sufocá-la por água tanta
Ou pela ausência de cuidado
Até o ramo ficar totalmente ressecado.

Responda, por fim, aquele que um dia foi traído
Com um beijo fraterno fingido
Ou com uma súbita e covarde apunhalada,
Que jamais será cicatrizada.

Responda, sim, responda amigo com sinceridade:
Qual é o valor de uma grande amizade?

Carlos Bianchi de Oliveira
6 de julho de 2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Pensamentos


Nas tardes tardias
Os pensamentos se perdem.
Esgotados, suplicam
O merecido descanso.

Há um vazio,
Um lapso de lucidez.
Nas tardes tardias,
Como chuvas temporãs,
A essência dos pensamentos
Se desfez.

Carlos Bianchi de Oliveira
18/01/2010

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Poema de Um Verso Só



Hoje, senti o som sombrio da solidão...

Carlos Bianchi de Oliveira
Março de 2004

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sem Voz




Pergunto-me às vezes
Por que me silencio
Diante do torvelinho
De tuas insanas preces,

E não encontro respostas.

Pergunto-me também
Por que sou bravio
Diante do teu silêncio
Conclusivo de amém,

E me condeno.

Pergunto-me ainda
Por que hesito
Diante do teu afeto
De candura emanada,

E derramo lágrimas
[silenciosas].

Carlos Bianchi de Oliveira



sexta-feira, 15 de junho de 2012

Espera




Segue a angustiante espera
Como nas histórias de amor,
Em que o instante se eterniza
E a esperança esmorece
Ante ao opressor.

Segue o silêncio moribundo,
Sem mundo interior.
E a ferrugem da paciência,
Que corrói da luz o brilho,
Eleva todo o torpor.

Segue a loucura humana,
Na partitura insensata e insana,
Que, sem razão, acredita
E grita desesperadamente
Diante da verdade que emana.

Segue a dor fatídica dos fatos,
Sentida, sofrida, imensurada, inexplicada.
O sono, que embriaga,
Traz o alívio da realidade
Que sonha até ser novamente despertada.

Carlos Bianchi de Oliveira

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Luz e Sombra



Tem certas coisas que falam
No mais profundo silêncio
E docemente nos calam.

Veja a luz, ah! a luz!
Que exalta o vício
 Da sombra fugaz

E toca no fundo da alma
Maniqueísta da gente humana,
Expondo-a de forma branda e calma.

Suas verdades e seus segredos
Sentidos na intensidade que emana
Das memórias e dos reprimidos medos.

Carlos Bianchi de Oliveira